segunda-feira, 29 de junho de 2015

Parabéns

Parabéns,
Grupo gestor, professores e comunidade. Inauguração das Salas de Leitura- EE Lucinda Bastos e EE Francisco Souza Mello:




segunda-feira, 22 de junho de 2015

Livroegame

Oá pessoal, Olha que dica para nos auxiliar mais ainda.
http://www.livroegame.com.br/

Contos de Bichos do Mato


Ática | 2005
Passando na frente de uma casa, um andarilho sente um cheirinho delicioso vindo da cozinha. O sujeito é pobre e está faminto. Bate na porta e pede comida. Vem a dona da casa e diz que naquele dia não fez jantar.
O homem não se aperta. Será que por acaso ela não poderia emprestar uma panela para ele fazer um sopa de pedra? Surpresa, a dona de casa empresta. O andarilho enche a panela de água, põe dentro algumas pedras, prepara o fogo e coloca-a para ferver. A mulher fica só olhando.
Então ele pede uma colher e um tantinho de manteiga. Depois, um tiquinho de sal. Um pouquinho de cheiro verde, ia bem. Uma coisinha à toa de cebola. A dona da casa vai trazendo. Fatiazinhas de batata e chuchu, pode ser? Que tal um pedacinho de lingüiça e ainda um punhadinho de arroz?
No fim, o sujeito joga as pedras fora, toma a ótima sopa e vai embora de pança cheia. Dessa vez ele conseguiu enganar a fome.
Como julgar o herói dessa história? Alguém poderia dizer: “Ele é mau porque mentiu! Enganou a mulher”. Outra pessoa poderia argumentar: “Mas a mulher também mentiu e, além disso, o andarilho estava morrendo de fome. Lançou mão de um ardil para poder sobreviver!”.
As duas respostas podem ser acertadas. A segunda, porém, tem mais a ver com o sentido das narrativas de Contos de bichos do mato. O ardil é um dos recursos humanos de sobrevivência mais antigos. Flechas, armadilhas e disfarces são ardis e graças a eles o homem arcaico, em busca de alimento, pôde enfrentar e vencer animais muito maiores ou inimigos mais poderosos. Foi assim que a espécie humana conseguiu superar as adversidades e sobreviver até os nossos dias.
Mesmo os animais têm seus ardis. Adotam, por exemplo, as cores do seu hábitat, e assim, camuflados, conseguem iludir seus predadores. Na luta pela sobrevivência, até os vegetais usam recursos engenhosos para preservar a vida.
Os Contos de bichos do mato são narrativas que falam sobre a luta pela sobrevivência (e sobre o amor à vida) e foram criadas e recriadas principalmente por gente do povo, gente humilde vivendo em condições precárias. Pessoas acostumadas a todo dia acordar e ir à luta para garantir a sobrevivência naquele mesmo dia.
Nesse contexto, os homens lutam contra todo tipo de força: as forças da natureza, representadas por secas, chuvas, frio, doenças e epidemias, acidentes, perigos naturais e pela própria fome. E as forças de gente poderosa que os explora e escraviza.
Essas lutas talvez possam ser assim resumidas: uma sucessão de ardis, truques, malandragens, gambiarras e espertezas utilizados para conservar a vida. Na verdade, a fome, a busca de proteção e a luta desigual contra forças maiores são a semente de uma certa moral popular, por vezes chamada de moral ingênua.
As narrativas populares de bichos foram criadas a partir da moral ingênua. Em tese, como sabemos, a moral corresponde a um conjunto de normas de comportamento destinadas a regular as relações entre os indivíduos 1. Mas nem sempre lembramos que essas relações acontecem numa determinada comunidade social. Em outras palavras, o significado e as características da moral podem variar muito de sociedade para sociedade.
Aprendemos a pensar na moral como um conjunto de princípios gerais e universais de comportamento que deve ser respeitado por todos: não mentir, não roubar, não matar, valorizar a busca da justiça, da imparcialidade, da impessoalidade, da isenção e da neutralidade.
Mas como exigir que a moral de uma sociedade socialmente justa e equilibrada, onde todos os cidadãos pagam impostos e recebem em troca os benefícios do Estado – segurança, educação, saúde e trabalho –, seja igual à moral de uma sociedade desequilibrada onde cada um luta por si para poder sobreviver?
Para entender essas narrativas sem taxá-las de “politicamente incorretas” devemos considerá-las num contexto histórico e social específicos. Num mundo de injustiça, de tirania, de crueldade, onde impera a lei do mais forte, só pode vigorar a moral do “cada um por si e Deus por todos”, ou “comida pouca, meu pirão primeiro” ou “come mais quem come quieto” etc.
Trata-se de uma questão de sobrevivência. Sem levar em conta tudo isso não é possível compreender os Contos de bichos do mato. Mas não sejamos hipócritas. A moral ingênua, não pertence apenas ao povo pobre, humilde e socialmente desamparado. Ela é conhecida por todos os seres humanos, independentemente de graus de instrução e classes sociais. Quem nunca puxou a brasa para a sua sardinha que levante a mão!
Eis aí a dimensão riquíssima dessas histórias: elas possibilitam uma reflexão ética e uma discussão sobre a justiça, a liberdade de agir e os limites do comportamento humano.   Ricardo Azevedo   1 Diferentemente, a ética é a teoria ou a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, representa um “conjunto sistemático de conhecimentos racionais e objetivos a respeito do comportamento humano moral” (Vazquez). Enquanto a moral é inseparável da atividade prática, a ética constitui-se na avaliação e reflexão sobre esta atividade.
Sobre o assunto, vale consultar VAZQUEZ, Adolfo Sanchez. Ética. Civilização Brasileira, 1999 e ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. Universidade de Brasília, 1992.

Mais dicas....


O sentimento do mundo


Resumo “Terra Sonâmbula”, de Mia Couto




 

 

Mais dicas, agora do slideshare

1-slideshare- Monteiro Lobato - http://pt.slideshare.net/MariaCarolinaWessling/monteiro-lobato-26074941?related=1

2-slideshare- Camões- http://pt.slideshare.net/saozitacosta/lus-vaz-de-cames-vida-e-obra

3-slideshare – Jorge Amado- http://pt.slideshare.net/marcelofernandesrj/seminrio-de-literatura-jorge-amado?next_slideshow=1


4- sideshare- Clarice Lispector
 
13-slideshare- Sentimento do mundo (análise de aluna)- http://pt.slideshare.net/katlyndias/sentimento-do-mundo-2?next_slideshow=1
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 







 





 










 
 
 
 
 


Dicas para a Olimpíada de Literatura

Bom dia,
 Devido a imprevistos tivemos que cancelar a orientação dos dias 22 e 23 de junho. Futuramente divulgaremos nova data. Para ajudar nas atividades, damos algumas sugestões de links para trabalhar a Literatura.
Abraços,


Mestres da Literatura – TV ESCOLA
1- José de Alencar –
 
2- Carlos Drummond de Andrade-
3- Guimarães Rosa
4- Machado de Assis-
5- Clarice Lispector –
 
6- Jorge Amado-
 
 
 
 
 

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Atenção- Cancelamento de Orientação Técnica

Caros professores,
Por favor divulguem em suas escolas que a OT para preparação da olimpíada nos dias 22 e 23 de junho foi cancelada. Futuramente divulgaremos nova data.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Concurso Caminhos do Mercosul Brasil 2015 - Concurso


Solicitamos a divulgação do Concurso Caminhos do MERCOSUL Brasil 2015: Floresta Amazônica – Patrimônio da Humanidade, nas Instituições de Ensino Estadual.

O objetivo do concurso é estimular e fortalecer a identidade MERCOSUL dos jovens estudantes da região, por meio de uma experiência formadora na qual os participantes, além de ampliarem seus conhecimentos, poderão vivenciar e apreciar o valor da integração regional, respeitando a diversidade cultural.
 Para maiores informações acessar o link abaixo. 


segunda-feira, 15 de junho de 2015

Carlos Drummond de Andrade por ele mesmo (Poemas)
https://www.youtube.com/watch?v=Pm3dI6qznms

Ouçam a voz do imortal Carlos Drummond de Andrade declamando alguns dos seus poemas mais conhecidos.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Orientação Técnica Sala de Leitura

Em 11 de junho tivemos a Orientação Técnica para auxiliar na elaboração da Radionovela. A PCNP  Regina de Tecnologia fez um excelente trabalho.





terça-feira, 2 de junho de 2015

Leitura em regiões de conflito Por Guilherme Freitas


Numa das muitas histórias sobre grupos de leitura em regiões em conflito reunidas em A arte de ler (Editora 34, tradução de Arthur Bueno e Camila Boldrini), a antropóloga francesa Michèle Petit conta o caso dos bibliotecários da Comuna 13, um conjunto de bairros pobres na periferia de Medellín. No fogo cruzado entre guerrilheiros das Farc e paramilitares colombianos, a biblioteca se transformou em ponto de encontro (e, muitas vezes, em abrigo) para jovens da vizinhança, que encontravam nas atividades promovidas pelos funcionários e nos livros disponíveis nas estantes um refúgio momentâneo para a brutalidade da rotina.

A história pode sugerir uma visão um tanto romântica da cultura como antídoto para a barbárie (impressão reforçada pelo subtítulo do livro, “Ou como resistir à adversidade”), mas Michèle Petit argumenta, em entrevista ao jornal O Globo, que o trabalho de pessoas como os bibliotecários de Medellín nada tem de ingênuo: “Eles sabem que a literatura não vai reparar as violências ou as desigualdades do mundo, mas observam que ela oferece um apoio notável para colocar o pensamento em ação, para provocar o autoquestionamento, suscitar um desejo, uma busca por outra coisa”, diz ela.

A arte de ler relata experiências desenvolvidas por mediadores de leitura em “espaços em crise” – locais afetados por confrontos armados, catástrofes naturais, pobreza e migrações forçadas – em diversas regiões, mas, sobretudo na América Latina (inclusive no Brasil). Nessas situações, sugere a autora, mais importante que a interpretação do texto é o encontro ao redor do livro: a leitura funciona como um catalisador para discussões em grupo sobre questões (pessoais ou coletivas) despertadas pelas obras.

Autora de Os jovens e a leitura (também publicado pela Editora 34), no qual reflete sobre os desafios da tão debatida “formação de leitores”, Michèle critica nesta entrevista a forma como o tema costuma ser abordado (“Certos discursos de glorificação da leitura dão vontade de jogar videogame!”, brinca) e defende que as situações extremas relatadas em A arte de ler podem inspirar novas abordagens para a difusão da leitura.

A arte de ler fala de experiências de leitura em locais que a senhora chama de espaços em crise”, sobretudo na América Latina. Por que escolheu esses lugares e que tipo de atividade encontrou neles?
Há muito tempo observa-se que a leitura ajuda a resistir às adversidades, mesmo nos contextos mais terríveis. Mas a maior parte daqueles que deram testemunho disso estavam imersos desde a infância na cultura escrita. As experiências que me interessaram na América Latina reúnem crianças, adolescentes ou adultos com pouca escolaridade, vindos de famílias pobres, que cresceram longe dos livros. Por exemplo: na Colômbia, jovens saídos da guerrilha ou de grupos paramilitares, toxicômanos, soldados feridos, populações desalojadas; na Argentina, mães de crianças pequenas em situação de extrema pobreza, jovens que sofreram abusos ou vítimas de catástrofes naturais. Essas experiências literárias compartilhadas se desenrolam em espaços de liberdade, sem registros escritos nem controle de presença, sem preocupação com rendimento escolar imediato nem resultados em termos quantitativos. O dispositivo é aparentemente muito simples: um mediador propõe suportes escritos a pessoas que não estão acostumadas a eles, lê alguns em voz alta, e então um relato ou um debate surgem entre os participantes. Os textos lidos despertam seus pensamentos e palavras. Não porque esses textos  evoquem situações próximas das que eles viveram. Aqueles que têm um efeito “reparador” são em geral até muito surpreendentes. Através de um conto ou poema qualquer escrito do outro lado do mundo, eles leem páginas dolorosas de sua vida de forma indireta, falam de sua própria história de outra maneira, e conseguem compartilhá-la. 
"Há muito tempo observa-se que a leitura ajuda a resistir às adversidades, mesmo nos contextos mais terríveis. Mas a maior parte daqueles que deram testemunho disso estavam imersos desde a infância na cultura escrita."

Quais são as principais diferenças entre a leitura individual e a experiência coletiva que é a leitura mediada?
Há séculos a leitura é associada à imagem de um leitor – e mais ainda, talvez, de uma leitora – solitário e silencioso, numa intimidade autossuficiente. Isso pode contribuir para afastar da leitura pessoas que vivem em meios onde se dá preferência a atividades coletivas e onde o ato de se colocar à parte do grupo é visto como rude. As experiências de leitura compartilhada, ao contrário, podem facilitar a apropriação dos textos, desde que eles não sejam percebidos como algo imposto. O interessante nos casos que estudei é que eles se desenrolam num quadro coletivo, mas onde cada pessoa é objeto de atenção singular. 
Cada um é ouvido com atenção, disponibilidade e confiança em sua capacidade e criatividade. Os ritmos ou as culturas próprias a uns e a outros são respeitados, suas palavras recebidas e valorizadas. Esses jovens são frequentemente solicitados, e formados, para tornarem-se também mediadores de leitura para outros, como faz, por exemplo, o grupo A Cor da Letra, no Brasil. É uma forma coletiva, mas que dá lugar a vozes plurais, a uma escuta mútua, a singularidades. A leitura solitária não se opõe a esses pequenos grupos livremente constituídos onde o tempo de leitura e discussão é repartido e onde cada um se retira em seguida para sua casa, levando consigo fragmentos de páginas lidas e palavras compartilhadas. Tanto uma quanto outra desenham espaços de liberdade e, às vezes, de resistência.

Segundo o livro, os mediadores veem seu trabalho como uma atividade “cultural, educativa e, em certos casos, política”. Qual seria a dimensão política da difusão da leitura?
Aqueles cujo trabalho acompanhei acreditam trabalhar por algo muito maior, que é de ordem cultural, poética, educativa e, em alguns aspectos, política. Eles não são ingênuos, sabem que a literatura não vai reparar as violências ou as desigualdades sociais, mas observam que ela oferece um apoio notável para colocar o pensamento em ação, para provocar o autoquestionamento, suscitar um desejo, uma busca por outra coisa. E, numa época em que os partidos políticos não conseguem fazer isso, a leitura compartilhada aparece como um meio de mobilizar as pessoas, de driblar a repressão à palavra e produzir experiências estéticas transformadoras (além de favorecer a aproximação da cultura escrita). Esses professores, bibliotecários, escritores, psicólogos, ou simples cidadãos, se engajam numa ampla partilha do texto, mas também na construção de uma sociedade mais democrática e solidária. 
"As experiências de leitura compartilhada [...] podem facilitar a apropriação dos textos, desde que eles não sejam percebidos como algo imposto."

Alguns argumentos a favor da leitura de obras literárias fazem com que ela pareça mais uma obrigação ou uma necessidade do que um prazer. Como fazer esse trabalho de difusão e, ao mesmo tempo, preservar a dimensão lúdica da leitura?
Certos discursos de glorificação da leitura dão vontade de jogar videogame! E os  discursos jamais fizeram alguém ler, tampouco as campanhas de massificação para “criar” ou “formar” leitores. Seja pai ou professor, quem diz que uma criança tem que ler (ou pior: que tem que gostar de ler!) faz da leitura um fardo ao qual ela precisa se submeter para satisfazer os adultos. O impasse está garantido se quem diz que “ler é um prazer” não tem nenhum gosto pela leitura: a criança vai sentir que a pessoa não está sendo sincera. O belo discurso transmite o contrário do que pretendia. Afinal, por que alguém se torna leitor? Na maior parte do tempo, porque viu a mãe ou o pai mergulhado nos livros quando era pequeno e se perguntou que segredos eles podiam desvendar ali. Ou porque eles leram histórias em voz alta, dando à criança liberdade de ir e vir, sem conferir constantemente se ela tinha entendido bem. Ou ainda porque as obras que havia em casa eram assunto de conversas intrigantes ou divertidas. Em certas famílias, as chances de ter essas experiências vêm de nascença ou quase. Em outras, os livros evocam para os pais nada além de lembranças de humilhação e tédio. Junte-se a isso as dificuldades econômicas e a distância dos locais onde se podem encontrar suportes escritos. Nessas famílias, se as crianças ou adultos acabam lendo, e até vivendo a leitura com alegria, é graças a um encontro, ao acompanhamento caloroso de um mediador (professor, bibliotecário, amigo, assistente social...) que tem gosto por livros e sabe tornar esses objetos desejáveis, o que é uma arte. Essa arte passa por um trabalho sobre si mesmo, sobre sua própria relação com os livros, para que a criança e o adolescente não digam: “Mas o que ele quer, esse aí, por que ele quer me fazer ler?”. É esta arte que está no coração das experiências que estudei e no coração do meu livro. Ela tem que ser apoiada, encorajada, e as iniciativas desses mediadores devem ser difundidas e multiplicadas, por uma vontade política, para que seja dada a todos, onde quer que vivam, uma chance de encontrar ecos de sua experiência humana, de descobrir outros mundos e de se apropriar realmente dos textos – o que é completamente diferente de aprender a ler.

Revista Na Ponta do Lápis,Ano VII,Número 16,Março de 2011